quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Exemplo do meu velho...

Antes de ontem foi o aniversário do meu pai, nem pude publicar este texto no dia, mas mesmo atrasado, fica aqui minha singela homenagem.


O Exemplo do meu velho...

Enquanto a tarde levantava seu véu, e a escalada do sol chegava do outro lado do mundo bem devagar, eu me aproximei do portão de casa a passos largos, levando no corpo a roupa de um dia todo, na cabeça o desejo fixo de somente um copo de água e um banho – nessa hora encontrei meu pai, sentado no terraço soltando capuchos de fumaça pelo ar, e jogando as cinzas do cigarro no cinzeiro do centro.

 Ao me ver ele revelou uma feição alegre, um olhar de quem tinha algo pra dizer, o mesmo olhar que me traz, sempre, a ilusória idéia que as coisas podem ser mais simples, tão ao alcance do braço, aquele olhar que faz tudo parecer menor, tudo diminuir exatamente ao tamanho real: os problemas que existem, e aqueles que eu invento! É essa a sua lição vespertina pra mim: um manifesto desprezo por qualquer coisa que atrapalhe o despojo de uma cadeira no terraço no final da sina do dia, uma lição de apresso.

Ora! No exemplo do seu silêncio, ele me mostra que não há separação, muito menos antagonismo, entre exemplo e silêncio, ao me sentar do seu lado e esperar que me diga alguma coisa, na verdade não espero que fale, mas que acolha minha presença e que me deixe copiá-lo, desejando que um dia minhas palavras se aproximem da sofisticação desse seu silêncio, é o que eu vou tentar meu velho, é que eu vou tentar...

3 comentários:

  1. Tem gente que tenta escrever, mas tem gente que tem talento. O seu caso? O segundo.
    Te amo!

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  2. Uma lição de apresso! meus parabens.

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