terça-feira, 3 de abril de 2012

Discurso da Colação de Gráu - Direito UFCG 2011.2 - Proferido dia 4 de Dezembro de 2011


Magnífico Senhor Reitor da Universidade Federal de Campina Grande; Ilustríssimo Senhor Diretor do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais,  Ilustríssima Senhora Coordenadora de Curso; Ilustríssimo paraninfo da turma; Ilustríssimo patrono; Demais componentes da mesa; aos presentes, senhoras e senhores, boa noite!

Esta solenidade marca a realização de um sonho, é núncio de mudança, de euforia e assombro, é brincadeira de lembrar aquilo que já foi, e projetar o que será, é permitir que o adolescente que fomos se emocione e comemore com a leveza própria das primeiras conquistas, para assumir, em seguida, a maturidade implacável que a graduação encerra.

O simbolismo dessa solenidade repousa nos tons de alumbramento, com algo da poesia de Manoel Bandeira: “Eu vi carros triunfais... troféus, pérolas grandes como a lua. Eu vi os céus! Eu vi os céus!” – unidos, formandos e famílias, mestres, administradores, lugares diferentes do país e uma sociedade respirando seu futuro, ideias e dilemas, somos todos, assim, um motivo para CELEBRAR!

Cinco anos se passaram desde que entramos no Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande pela primeira vez, completamente perdidos entre cartazes de boas vindas, música que retumbava nos corredores, e gigantes que falavam de movimento estudantil e ofereciam bebidas. Para alguns de nós, era uma longa viagem, para uma Sousa que se dividia entre o deslumbramento do começo do tempo de faculdade, e um assustador prenúncio de solidão.

Estranhos agrupados por obra do acaso ou do destino, dividindo forçosamente salas de aulas, corredores e sombras das árvores, de repente, se descobrem em sinceras amizades, ardentes amores, prósperas parcerias, deliciosas conversas de mesa de bar – destino – uma palavra estranha que foi inventada, certamente, para justificar o ciclo de partidas e reencontros, algo que podemos culpar pelas mudanças inevitáveis, e precisamos consenti-lo, para que ele não nos arraste.

Esta mudança, que assusta e ao mesmo tempo estimula deve ser, antes de mais nada, entendida, e depois enfrentada. Certamente não há forma mais simples e eficiente de entender o mundo, se não conhecendo histórias, que são um jeito mágico de transmitir idéias, assim como Machado de Assis com Tia Anastácia, que misturando a engenharia da comunicação e o poder da imaginação, encantou pessoas de várias gerações.

Talvez não exista uma história ideal para ilustrar todo o valor simbólico desta solenidade, mas de qualquer forma, foram selecionadas duas, cujas mensagens parecem se encaixar nos principais dilemas que se descortinam em frente aos olhos.

Há alguns anos, numa cidade dos Estados Unidos, um casal estava para adotar um menino, mas, para completar a adoção, segundo o sistema norte-americano, precisavam atender uma exigência da mãe biológica, que queria garantir que ele chegasse a cursar uma faculdade. Assim aconteceu, o garoto foi adotado e logo após terminar o colegial, ingressou numa respeitada universidade, e foi morar numa cidade longe de casa.

As universidades americanas, mesmo as mantidas pelo Estado, são pagas, e a família adotante, que sempre teve reservas financeiras modestas, começou a penar para mantê-lo, ao mesmo tempo em que o garoto começou a ver pouco sentido na maior parte daquilo que era obrigado a estudar. Foi quando resolveu deixar o vinculo com a universidade, eliminando as despesas, mas continuou a freqüentar as aulas interessantes, além de ver disciplinas de outros cursos, estudou desde tecnologia para computação até caligrafia. Mas nunca chegou a se formar.

Se a narrativa se encerrasse aqui, naturalmente se presumiria que sua vida teria sido frustrante, por ter se desviado do caminho tradicional do sucesso, mas, nesse mundo cheio de surpresas, este trecho é da biografia do criador do primeiro computador pessoal, seu nome é Steve Jobs, essas passagens foram reveladas por ele quando fez um discurso para os formandos da universidade americana de Stanford.

A segunda história se deu aqui, neste campus, numa quarta feira de manhã, quando uma senhorinha apareceu no Núcleo de Prática Jurídica para pedir uma inusitada ajuda, e acabou deixando um marcante depoimento. Veio contar a história de seu único filho, que era o motivo de seus problemas, criado sem pai, sem nunca ter freqüentado a escola, acabou entrando na armadilha das drogas já na na adolescência, ficou dependente e começou a roubar pra consumir droga, primeiro dentro de casa, depois na rua.

Na juventude teve dezenas de passagens pela polícia e internatos, até completar a maior idade e ser preso. Auando isso aconteceu, confessou ela, a sensação foi de puro alívio. Nos dias de visita ela lhe levava alguma coisa pra comer, conversava e fazia planos de vida nova quando ele saísse da cadeia, contudo, ao ganhar o direito de sair da prisão para trabalhar, devendo voltar para dormir, sumiu no mundo na primeira oportunidade que teve. A senhorinha com os olhos cheios de poeira e lágrima pediu para que o prendessem novamente, “antes preso do que morto”.

Foi dito que esse problema não cabia ser resolvido ali, mas tudo ia ser comunicado as autoridades. A senhorinha tomou nas mãos a promessa de providencia incerta e saiu com seus olhos empoeirados queimando esperança, ela realmente estava disposta a esperar por qualquer ajuda, seu olhar demonstrava uma gratidão incrível, por pelo menos ter sido ouvida.

Histórias e dilemas, uma estreita relação, sim, pois, o encerrar da graduação não é uma vitória exauriente, mas o resultado da seleção natural onde ficam os que não se renderam as dificuldades, angustia e incertezas, e devem continuar acreditando em si, assim como o personagem da primeira história, às vezes negando certos paradigmas, pois o sucesso mora na capacidade de se desdobrar, capacidade que estas roupas talares estão para simbolizar que temos.

E quando tudo parecer inatingível devemos manter queimando esperança, como fez a senhorinha, e olhar com gratidão para cada aprendizado, mantendo este sonho, que celebramos hoje, sempre vivo, pois são os sonhos e os objetivos que justificam a vida.

E acima de tudo, não esquecer que somos seletos afortunados, com o privilégio de viajar pelo conhecimento numa Universidade Federal, e a sociedade que nos manteve está seriamente doente, e sem diagnóstico, carente de quem a represente com alguma dignidade e verdade – ou melhor, o problema é bem mais lastimante, não é nem que não respeitem a verdade : não respeitam, sequer, a mentira!

A corrupção que tradicionalmente acontecia em elaboradas patranhas, simbolizadas nas elegantes malas pretas de dinheiro, hoje foram substituídas pelo dinheiro escondido na cueca ou nas meias, e brincadeira de se esconder no labirinto da lei sempre continua, diante dos olhos perplexos da coletividade.

Idéias, cidadania e consciência, responsabilidade pelo sucesso próprio e por transformar a sociedade, eis a grata missão dos vencedores, que, sim, fizeram por merecê-la.
Muito Obrigado!

Jonas Bráulio de Carvalho Rolim

quarta-feira, 7 de março de 2012

Um bilhetinho


Resposta ao Texto: A Orquestra (publicado em 2 de setembro de 2011)

Olá amado netinho,

Gracioso texto sobre A ORQUESTRA. Gostei do seu desempenho em ler âmagos (em palavras) – Sim, somos todos da mesma idade, moleques, alegres, brincando de tocar! Momentos de muita singeleza. Ensaios? É muito melhor que o show! Subir a escada de pedra e ouvir CON TE PARTRO é um privilegio de poucos...

Sei de perto o carinho que sente por este grupo, que um dia, resolveu ser de musicistas: o Maestro é o Astro Rei, ele, sim, é mesmo um grande Maestro. Todos os outros firmaram propósito de sair do ninho e tocar em apresentações de fim de ano, teatros e sala de música, levando os apelidos sofisticados e marotos, que é o nosso “faz de conta”, um jeito para que se firme mais ainda uma amizade.

Alguns Rouxinóis sumiram, ficou a lacuna, aqui nem vou dar nomes (porque bate aquela saudade), outros foram se chegando e entrando no ritmo do palco da vida: vida de grandes amigos.

Espero que você, com seu encanto, de também musicista, continue olhando e acompanhando com bons olhos os nossos passos. Reze conosco:

"FAZEI SENHOR QUE NO PALCO EU NÃO ERRE, MAS SE ERRAR, QUE NINGUÉM ESCUTE, MAS SE ESCUTAR, QUE NÃO COMENTE, MAS SE COMENTAR, QUE NINGUÉM ACREDTE"
HEHEHEHEHE

Obrigada, mais uma vez pelo texto. Estou feliz por mim e por você meu amadíssimo neto: musicista...

Ilma Barbosa.

terça-feira, 6 de março de 2012

Manhã de um primeiro dia


Manhã de um Primeiro Dia...

Não faz tempo que amanheceu, mas eu já estou de pé - hoje é o primeiro dia no escritório. Uma segunda feira, vejam vocês, pode ser um bom dia – a gravata está estendida no dorso da cadeira, também a camisa branca e calça do paletó – acordar pareceu trazer consigo algo de Vinicius de Moraes, os segundos “são docas mansas, trilhando luzes, que brilham longe dos breus…”, e até o tic-tac do relógio parece uma bossa levada no estalar dos dedos. Depois de um café reforçado, podia, quem sabe, fazer uns exercícios, mas isso vai ficar pra amanhã – a hora avança – Bom dia! Estou indo trabalhar!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A ORQUESTRA


A ORQUESTRA

Eu destinei esse blog a escrever sobre problemas sociais, subsidio é o que não tem faltado, o influxo histórico dando uma nova cara a corrupção, a brincadeira de se esconder no labirinto da lei, a dificuldade no acesso a justiça etc. Mesmo assim, sobrando conteúdo, as coisas andaram meio paradas por aqui. Na verdade, eu destinei esse blog a ser uma alternativa, nunca planejei, mesmo me propondo a falar dessas franjas do que é real, em informar ou denunciar nada. Aqui a sensação ainda é orientadora da palavra, mesmo todos os dias me adestrando a ser objetivo (ossos do ofício), nesse espaço, se respira qualquer coisa de poesia. Mas a correria sufocante me afastou desse propósito. Eu me conformei.

Sem enxergar as coisas com a mesma translucidez de antes, para retomar a escrita só mesmo encontrando algo além do real, algo mágico. Foi mais ou menos o que aconteceu.

Em uma noite de quinta, Juliana, minha mãe e eu fomos ver o ensaio da orquestra que acontecia na casa de minha vó, em que ela é violinista. Enquanto subíamos a escada de pedra da entrada já dava pra ouvir, vindo da sala de estar, Con Te Partiro sendo executada só pelos violinos. Batemos na porta, a música parou e vovó se levantou pra nos receber. Beijo, abraço e uma molecagem dirigida a cada um, como de costume, e ela voltou pra poltrona, pro violino e pra partitura. Na sala os músicos estavam distribuídos nos sofás e cadeiras improvisadas ao redor do centro. Cumprimentamos a todos, flautista, violoncelista, e os violinistas, e nos acomodamos ao redor pra ouvir o resto do ensaio. Uma noite de sereno, um frio delicioso no sertão. As portas laterais da sala que davam pra o terraço, com suas vidraças enormes pareciam trazer o jardim pra dentro de casa. A luz do poste prateava as folhas dos arvoredos úmidos de sereno. Um, dois, três – o maestro desenhou umas formas no ar com os dedos, a música completou o cenário...

Pegamos, talvez, a melhor parte do ensaio, quando já está quase tudo em sintonia. Enquanto a musica continuava uma paz invasiva crescia, trabalhos por concluir, pendências pessoais, nada... de repente todo o dia se resumia aquilo que estava vendo e ouvindo.

Os músicos se provocavam como velhos amigos. A sinestesia ia muito além do ritmo e do compasso. O maestro é um homem jovem, que ostenta um bigode e um bom humor dignos de registro, o flautista batia o pé no chão e mexia o tronco coreografando as notas que ele mesmo fazia enquanto soprava – ele o maestro e minha vó, eram os mais experientes – os outros violinistas, e o violoncelista eram todos meninos ainda, mas, no conjunto todo mundo tem a mesma idade! Todos eram moleques, e riam, trocavam apelidos, iam e voltavam corrigindo os deslizes completamente imperceptíveis para os meus ouvidos, lá os sentidos só captavam a prosa e poesia suspensa no ar daquela sala. Deus estava por ali, e bem feliz.

Tive uma vontade absurda de dizer, “ora, ensaiem num palco!”, a apresentação que me perdoe, mas o ensaio é muito mais saboroso.

Em dias em que não consigo ver graça em nada da vida, mesmo com uma agenda incrível no celular, ou uma rua cheia de gente pra conhecer, é pra orquestra que volto. Guardo como uma ilha na memória, que posso ir até lá quando quiser curtir o sereno e o frio. Ser arquiteto do meu próprio bom humor, pra transmitir também pra quem ta do meu lado. Isso é o que venho considerando o sentido da vida, pelo menos por hora...